segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Aprazer




Rompe o dia (rejeito dizer irrompe, porque o associo ao invadir dos raios solares entre os espaços picotados da persiana); aliás, minto, toca o despertador no escuro bréu do quarto. Adio o acordar por trinta minutos e assumo, logo ali, as consequências do atraso. O motivo é deveras humano e, por conseguinte, deveras atendível (nunca percebi porque só uma razão de força maior, como um tornado do oeste, é razão prevalecente): é a paixão, é a imagem mais bela que os meus olhos alcançam.

A custo, não de euros, mas de preguiça visual, entrevejo, na penumbra, porventura elucidado pelo seu refulgir natural, o rosto repousado em sereno descansar. Deitada, dormindo, aquietada, sossegada, em gesto imanente de elegante princesa, fito-a em silêncio. Ganho vida e, em abrupta cascata, perco-a ao lembrar que o dia de trabalho não se contorna e a lei da vida nele me exige a presença.

Saio daquele leito, mergulho no chuveiro, visto e abotoo-me. É altura do fim, do último olhar daquela manhã. Sento na beira da cama e perco-me. Abstraio o tempo e o espaço e foco-me em recolher-lhe a serenidade do seu rosto, sim, encarno-me da voracidade do mais vil ladrão e ouso apreender, em memória guardada, tamanho deleite, para, por fim, num repente, logo arrependido, virar costas e ir à labuta diária. Até logo.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O ESTADO E A HOMOSSEXUALIDADE

No estilo pomposo habitual, em sede de conferência de imprensa, foi hoje, pelo Governo, anunciada a proposta de alteração do Código Civil, onde se regula o casamento, admitindo-se que esta instituição tutelada pelo Estado seja protagonizada por pessoas do mesmo sexo.

Ao mesmo tempo o líder parlamentar do PSD, anunciou projecto de lei do seu partido, admitindo a institucionalização de um registo civil de uniões de facto homossexuais, mas sem explicitar o novo alcance deste regime jurídico.

Além do estigma social vigente de reprovação de casais homossexuais, legalmente encontro nenhuma ou pouca discriminação na lei. Exceptua-se, o facto de um cônjuge heterossexual ser herdeiro “necessário” do outro, direito que a união de facto não permite actualmente (nem a união de facto heterossexual, nem a união de facto homossexual).

Isto posto, questão fulcral é perguntarmo-nos porquê consagrar legalmente o casamento entre pessoas do mesmo sexo? Porquê o Estado abarcar com esta instituição a união entre pessoas do mesmo sexo? Afinal, o que tutela o Estado com o casamento, entre pessoas de diferentes sexos? Tutela toda uma vida a dois, de comunhão na criação de riqueza (como é óbvio, não apenas no sentido económico), bem como partilha no assumir de responsabilidades. Contudo a “criação de riqueza, em sentido espiritual e humanista, sem querer fechar, em absoluto, o conceito, concretiza-se na reprodução, inato fim da humanidade. Contraporão: Não se justificaria assim o casamento entre pessoas de sexo diferente, que não pudessem ou não quisessem reproduzir. Respondo que o casamento não existe particularmente para estas situações, embora acabe por abrangê-las, aqui sim por uma situação de não discriminação, por respeito das opções individuais e da intimidade da vida privada. Já entre pessoas do mesmo sexo, a ideia é, à partida, contra natura, pois, nem em abstracto, se admite a reprodução.

Além disto, o próximo desafio interrogativo, se a proposta de lei do Governo for aprovada, será a adopção de crianças por casais homossexuais, onde emerge, sem espaço para outras primazias, o interesse da criança. Aí, atento o contexto sócio-cultural actual não há espaço para qualquer discussão, já que o ambiente de tranquilidade e não confusão, imprescindíveis ao são desenvolvimento da criança, é intangível na sociedade portuguesa actual.

Em resumo (nem recorrendo ao primata argumento da reprodução), não entendo a necessidade de se incluir no casamento, a possibilidade de este se realizar entre pessoas do mesmo sexo, tendo o Estado muitos outros desafios e matérias a legislar, parecendo-me muito escasso e débil que os argumentos da concepção actual de casamento (e necessidade de sobre isto o Estado legislar) possam ceder perante a discriminação que se diz existir nesta matéria. Por exemplo, um engenheiro, inscrito na Ordem dos Engenheiros, não pode exigir ter as mesmas prerrogativas que têm um Solicitador, inscrito na Câmara dos Solicitadores, numa questão em que o segundo tenha um direito melhor. Igual o que é igual, diferente o que é diferente.Ou, um dia também admitiremos que um filho, que vive com a sua mãe, em economia comum (lembro que já existe uma lei que lhes permite ter um regime fiscal idêntico a quem vive em união de facto ou é casado) também possa casar com ela?

O casamento entre homossexuais é, a meu ver, um capricho social… O remédio para evitar a discriminação não é por aí, sendo que, do ponto de vista do Estado, o único direito que lhes será concedido é passarem a ser um dos tais herdeiros “necessários”.

Como se posicionará o Parlamento Português, a proposta do Governo será mesmo aprovada? Julgo que não. Porventura, terá os votos favoráveis do P. S. e do B. E., mas tem viva força opositora do P. S. D. e do C. D. S. – P. P., sobrando o P. C. P., que diz ser necessário um amplo debate na sociedade portuguesa, o que está longe de acontecer, daí que deva votar contra, assim inviabilizando a aprovação

A rever, no primeiro semestre de 2010.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Mãe Preta














Vi a greta, viagreta,
Vi a greta da Mãe Preta.

Mãe Preta coleccionava
embalagens de Vienetta,
cujo conteúdo chupava
com seus lábios violeta.

Via greta, viagreta,
Vi a greta da Mãe Preta.

Mãe Preta se emocionava
quando ouvia uma opereta,
cujo disco colocava
na grafonola obsoleta.

Viagreta, vi a recta,
vi a greta da Mãe Preta.

Mãe Preta nunca guardava
a roupa numa gaveta.
Mãe Preta se masturbava
com a tampa de uma caneta.

Via preta, vi a preta,
vi a preta da Mãe Greta.

Mãe Preta não revelava
a sua negra faceta.
Mãe Preta sempre lavava
a sua única teta.

Vi a teta, vi a teta,
vi a teta da Mãe Preta.

Mãe Preta foi encontrada
cagando numa roleta.
Mãe Preta sempre mijava
para dentro de uma sarjeta.

Vi a greta, vi a meta,
vi a preta da Mãe Greta.

Mãe Preta discriminava
o seu sobrinho maneta.
Mãe Preta não olvidava
as benesses da punheta.

Tia greta, tia greta,
Tia preta da Mãe Preta.

Mãe Preta sempre roubava
o seu tio mais forreta.
Mãe Preta o apelidava
de velho macaco rabeta.

Vi a recta, vi a preta,
vi a via da Mãe Preta.

Mãe Preta foi arrombada
por um chinês de lambreta.
Mãe Preta ficou deitada
no fundo de uma valeta.

Coitadeta, coitadeta,
Coitadeta da Mãe Preta.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

A MONTANHA PARIU UM RATO

Alguns minutos depois de ter ouvido a bela comunicação do Presidente de República de Portugal, retiro, sem querer destacar as críticas a alguns membros do Partido Socialista, esta frase:
-«e onde está o crime?» de um assessor ter expressado opiniões pessoais?»
Eu, em amabilidade que hesitarei repetir, respondo. Não está, a responsabilidade criminal não está. Desculpem, a não confirmarem-se os factos da tal opinião pessoal, acho que no mínimo estará cometido o crime de Difamação. De quem? Dependerá do alcance da tal opinião pessoal, mas ao citar a viagem dum membro do Governo na comitiva presidencial numa viagem à Madeira, penso que o difamado será o Governo. Desta guisa, há um crime de difamação do Governo, cujo autor material é o tal assessor, já que nem o próprio Presidente da República acredita que haja tal vigilância.
Além desta minha resposta à triste pergunta dum gago e decrépito Economista (daí que não saiba qual o crime) é muito grave que alguém que trabalha na Casa Civil do Presidente, há data como chefe do gabinete de Imprensa, ache que o Palácio de Belém é escutado ou vigiado pelo Governo. É uma opinião pessoal que não se pode permitir, nem o Presidente poderia tolerar. Tolerando-a é cúmplice com ela e a demissão do tal assessor não basta (sempre dizendo que o demitiu apenas porque falou em nome do Presidente sem autorização, não tendo em conta o conteúdo do que disse).
Não grito pela urgente avaliação médica das capacidades físicas e psíquicas do Presidente, mas por uma básica aula do princípio da confiança na relação institucional entre os vários órgãos de soberania de Portugal. Não o dominando, não pôde manter-se no cargo. Digo eu, que sou anónimo, ou melhor, alienado. Calem-no ...


quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Está esmiuçado!

Dia 28 de Setembro, acordará o país com nova maioria parlamentar do partido socialista. Não se fundamenta tal prognóstico na sondagem hoje conhecida, mas antes numa imensa capacidade analítica deste observador anónimo, sem créditos dados (até porque não sou nenhum banco, nem no sentido de se deixar ser sentado).

Na cadeira do poder, só me domina a dúvida da vitória socialista ser estribada numa maioria parlamentar absoluta ou relativa, tudo dependendo da quantidade e maior ou menor profundidade do quilate das frases do homem de palha do PSD (no caso uma mulher e no caso, surpreendentemente, superando o tradicional homem de palha, já que, com um bom resultado nas europeias, revelou, aos seus compinchas de partido, que terão de a suportar durante mais tempo, dando-lhe "carta branca" na condução da campanha do PSD e até na escolha das listas de candidatos a deputado e até deixando ouvir-se o anão político Aguiar Branco).

Vector também decisivo na questão da maioria absoluta/relativa socialista a quantidade de votos do Bloco de Esquerda, sendo que neste particular e pese embora se mantenham como terceira força política, os seus resultados (em termos percentuais) serão inferiores aos alcançados nas Europeias, já que não beneficiarão do voto de admoestação ao Governo, no típico exercício de aliteracia/iliteracia democrática dos portugueses, que tornam sinónimos parlamento europeu e censura ao governo de Portugal.

Destarte, antevejo uma maioria parlamentar absoluta socialista. A corroborar pela realidade.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Bola em duas linhas

Começa o defeso marcado pelo Messias, não o do Barcelona, mas o vizinho do Luís Filipe Vieira, qualidade que conjuga com a de treinador da equipa sénior do SLB, que tem imposto pesados castigos neste início de campeonato, ocorrendo-me duas dúvidas: até quando durará o combustível e a força física(e a consequência dum pico de forma tão precoce)?Como reagirá o frágil e pouco blindado balneário benfiquista aquando de três ou mais maus resultados consecutivos?

Em Alvalade, mora o incerto, inquilino rotineiro do SCP, numa já perene inconsistência exibicional, tudo (por tudo entenda-se a possibilidade de ser campeão) dependendo do balanço que resulte dos próximos dez jogos.

No FCP, Lucho no Marselha, Lisandro e Cissoko no Lyon, surgem, em resposta, Álvaro, Varela, Bellushi e Falcão. De todos, o menos apto é o Álvaro no capítulo defensivo (a ver se esta terça, contra o Chelsea, me engano),o que não belisca a séria previsão dum FCP pentacampeão, porquanto apresenta melhor plantel e exibe um colectivo que demonstra ser mais que o somatório dos jogadores individualmente considerados.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Apartados pelo Destino - O Rockeiro das Caxinas

Matthew Bellamy -----------------------------Hélder Postiga
(vocalista dos Muse) --------------------------(jogador do Sporting C. P.)

Corria o mês de Setembro do ano da graça do Nosso Senhor de 1984, quando as inesperadas vagas do destino mudaram para sempre esta família de prestigiados pescadores Vila Condenses. Como era seu costume, Manuel Postiga levara para a faina os seus dois filhos gémeos, de dois anos de idade, Adérito e Hélder.
Já o sol do meio dia tisnava a testa suada do pai Postiga quando este se preparava para recolher a última rede carregada de sardinhas.
Os dois petizes, sentados na proa da traineira, entretinham-se a retirar pequenos peixes presos nas redes.
De súbito, uma onda mais forte sacudiu a pequena embarcação e lançou os dois miúdos pelo ar. Hélder caiu dentro do barco. Menos sorte teve Adérito, que acabou por cair no mar. Meio atordoado, Manuel tentou socorrer o filho, atirando-lhe um remo para este se agarrar. Adérito, apesar da tenra idade, conseguiu agarrar-se ao remo com toda a sua força. No entanto, em virtude de uma inédita conjugação de ventos, rapidamente foi afastado do barco do seu pai, perdendo-se no horizonte, sem que este o conseguisse salvar.
Após três dias à deriva no mar, Adérito deu à costa na praia de Bristol, em terras de Sua Majestade. Por sorte, aí foi recolhido pelo célebre guitarrista Keith Richards que, ao vaguear pela praia em busca de uma rara alga alucinogénea, avistou Adérito, meio desfalecido, ainda agarrado ao remo já partido.
Keith levou o rapaz para sua casa e deixou-o numa pequena dispensa onde guardava velhas guitarras, latas de atum e umas garrafas de whisky novo.
À míngua de brinquedos próprios para a sua idade, Adérito começou a brincar com as velhas guitarras de Keith. Mas Keith não podia ficar com Adérito por muito tempo. Possuía já uma grande quantidade de plantas para cuidar, pelo que não tinha tempo para educar uma criança. Levou-o então para casa de uma amiga solteira que vivia em Cambridge, Lucy Bellamy.
Lucy aceitou o miúdo e criou-o como se fosse o seu próprio filho. Ensinou-o a falar inglês e mudou-lhe o nome para Matthew.
Keith continuou a ver o pequeno, semanalmente, e decidiu dar-lhe algumas lições de guitarra.
Adérito aprendeu a tocar, criou uma banda, os Muse, e tornou-se na estrela internacional que é actualmente.
A letra da música "New Born", escrita por Matthew, é, nitidamente, um relato íntimo desta sua experiência pessoal. Veja-se, por exemplo, as seguintes passagens: "When you've seen, seen,/ Too much, too young, young" (...); "Hopeless time to roam/ The distance to your home/ Fades away to nowhere(...)"; "Wasting our last chance/ To come away/ Just break the silence/ Cause I'm drifting away/ Away from you".
Apesar de tudo, embora possua apenas ténues reminiscências da sua família biológica, Matthew Bellamy não nega os laços de consanguinidade que o unem ao seu irmão gémeo, tendo decidido dedicar uma música ao seu talento futebolístico: "Supermassive Black Hole".
O Destino ainda tentou emendar a mão, tentando aproximar os dois irmãos, quando Hélder se mudou para Tottenham na época 2003/2004. No entanto, a inabilidade futebolística de Hélder cedo o trouxe de volta à pátria, não dando ensejo ao Fado para voltar a unir o que separara vinte anos antes.
Manuel Postiga, actualmente reformado, tem apenas um desejo que gostaria de ver concretizado antes de morrer: ver os dois filhos reencontrarem-se... quem sabe em cima de um palco em pleno concerto no Estádio Alvalade.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Capa do ano



Palavras para quê? É, sem dúvida a melhor capa do ano.

A ver vamos é se o Jorge "Terminator" não gastou os cartuchos todos de uma assentada.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Merda! Acabaram as férias!

É o grosseiro desabafo de um operário oprimido pela inexorabilidade quotidiana dos tempos pós 2.ª revolução industrial.
Mas a indelicada palavra não é apenas uma revoltada forma de exprimir a profunda saudade das tardes de papo para o ar, das loirinhas geladinhas (e outras menos frígidas), do tremoço e da tremoça, do caracol e do carapau, dos grelhados ao fim do dia, dos banhos nas tépidas águas do areinho de Avintes, do anúncio da nova contratação do Benfica, das biclas da volta à Portugal, do rejuvenescedor cheiro a incêndio, dos passeios à beira-mar, dos decotes das bifas e do topless das nativas, dos arraiais e romarias, dos foguetes, das procissões, da porrada no Café Central, dos favaios e dos martinis, do anúnico da frustração da nova contratação do Benfica, dos concertos do Marante, Emanuel e afins, etc., etc., etc.
Não, a rude palavra utilizada não é somente um meio de exorcizar o medo de ver todas estas maravilhas da humanidade desaparecerem para sempre, como se o Verão acabasse e, por manobra e desgraça da Madrasta Natureza, entrássemos num ciclo interminável de trabalhos forçados, durante Outonos e Invernos para toda a eternidade
"Merda" é bem mais do que isso. Como se não bastasse o eclipse social, familiar e individual que o fim do Verão acarreta para o operário, já se pressagiam outros efeitos secundários, ou direi mesmo principais, de tal modo funestos e catastróficos que são capazes de ridicularizar qualquer infantil receio de nunca mais poder ir à praia ou a angústia diária da maquinização.
Este ano, o fim do Verão, representa muito mais do que o fim das férias e o começo do labor.
Representa o início de uma era de pânico, de medo, de terror, de desespero. Uma grave epidemia está atacar o nosso país. Já o começou a fazer pela calada, enquanto gozávamos as nossas férias e as nossa defesas estavam em baixo. O vírus andava por aí: nos autocarros, nos comboios, nas feiras, nas romarias, nas praias, nas piscinas, espirrando e tossindo para cima de nós. Alguns já sentiram na pele o seu dano directo. A maioria nem reparou o mal que lentamente a rodeava. Mas agora que o terreno está minado, esta epidemia tem pernas para andar e já não há nada que possamos fazer para evitar que a nossa sociedade seja conspurcada, que toda a nossa humanidade seja contaminada.
No extremo da falésia, o operário, de olhos aguados, lança um derradeiro olhar sobre o horizonte, passa a mão lívida pela teste ardente de febre, beija as fotografias da mulher e dos filhos; toda a sua vida passa à sua frente, projectada na água gelada que engolirá o seu corpo doente e incapaz de lutar. Antes do impulso fatal, para evitar que o arrependimento se apodere do seu espírito durante a queda, tornando o fim ainda mais difícil, o operário, com voz sumida, relembra para si a razão da sua resolução: "Merda! Acabaram as férias... vêm aí as eleições!"

segunda-feira, 29 de junho de 2009

7h30 de 1996


Lembrar-se-á alguém das 7h30 de 14 de Julho de 1996?

Eu lembro. Eu lembro do sol, do sol onde acordei depois da noite de solteiro, noite de despedida de solteiro. Foi nesse dia que casei, depois de ter acordado encostado a um pano de barraca, num areal. Rememoro ainda, além do cheiro a areia molhada, o porquê daquela decisão de casar, daquele anúncio ao mundo que é um casamento; do porquê de festejar, não a união entre duas pessoas, mas a partilha entre duas pessoas de um tudo de 99%.

Sou um iluminado, acusem-me disso, da arrogância de saber o que é o amor. O inocente e fraco colectivo, vivendo nessa ignorância, não arca com a inerente responsabilidade de o ter, de o domar, de o tudo...(tenho para mim que o comum mortal prefere negar a consciência de saber/"cerebralizar" o que é o amor e, destarte, evitar a sua complexidade).

Ela é a vida. Ela é a fonte. Nela espelho o amor. Dela retiro prazer por me olhar. Dela retiro prazer ao olhá-la. Ela não me admira, ela não me coloca num plano de virtuosa intelectualidade, mas move-a apenas a paixão, a paixão por mim, pelo que eu sou. Sabe bem ser e disso resultar paixão. Falo do sentir dela, mas é indistinto ser nesse sentido ou no oposto. É uma verdadeira reciprocidade, simultânea e sem interrupções. É amor.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

O RESCALDO





Contam-se hoje 15 dias decorridos, desde o dia das eleições europeias neste rural (no sentido de não evoluídas mentalidades e iliteracia universal)país português. Houve uma vitória social-democrata que não ignoro; baseada em quê não me atrevo a indagar, senão na competência discursiva de Paulo Rangel.


Aventar uma censura ao Governo ou uma crença numa Europa social-democrata, apoiada na individual iniciativa e na minimização da intervenção do Estado são possibilidades que não quero crer como os reais fundamentos desta portuguesa votação nas Europeias. Censurar o Governo em eleições que decidem a composição do Parlamento Europeu? De deputados Europeus organizados de acordo com famílias políticas europeias? Eleições que ditam o sentido de boa parte das "leis" europeias, mais sociais ou mais liberalistas no sentido de um mínimo intervencionista, quase só regulador?


Nisto jogar a Europa, num mero instrumento de censura ao Governo Nacional só mostra a ruralidade deste país e desta Europa porque toda ela, ou muito boa parte dela, escolheu a social-democracia. Não esqueça o povo que a integração europeia sempre teve como fio-de-prumo um modelo mais ou menos federalista e ser-se internacionalmente federalista é ser-se europeiamente socialista. Não rejeito outras correntes políticas algo distantes, mas é no socialismo que mora a integração europeia, entendida mais lata ou mais estritamente. O triste é que o povo, chamado às urnas, não soube ao que ia e há-de continuar a não saber, tão cedo não se transfigure o actual sistema político. Assim não serve.


Mudar em que sentido? Começar sempre pelos alicerces, ou seja, incentivar a participação dos cidadãos no poder local e na escolha da sua rua, da sua zona e da sua freguesia. Educar para a intervenção democrática. Para quando referendos locais sobre questões locais, tão banais na Europa Nórdica?

Just fucking wondering.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Do defeso

Ainda há pouco começaram as férias futebolísticas e já variadas notícias animam e mantêm viva a chama dos amantes do desporto rei.


Antes de mais, Bettencourt foi notícia no Sporting, ao vencer de forma esperada as eleições do clube. Já totalmente inesperadas e de profundo mau gosto foram as suas investidas musicais pelos cânticos da Juve, nos festejos da vitória.

No Porto, o lateral esquerdo Cissokho protagonizou, talvez, a transferência mais surpreendente da história do futebol, ao passar, em apenas 1 ano, da 2.ª divisão francesa para o Vitória de Setubal, do Vitória para o Porto, e daqui para o A.C. Milan, inflaccionando o seu preço cerca de 50 vezes mais.
Mais surpreendente foi, no entanto, o cancelamento da mesma transferência, alegadamente devido a problemas dentários do jogador. Diga-se de passagem, também não foi cavalo dado.
Sugiro que, quando o rapaz regressar ao Porto, o Bruno Alves lhe parta a cremalheira num treino(acidentalmente é claro), e lhe seja colocada uma dentição completa, toda em ouro maciço. Pode ser que assim o Milan o aceite. Pelo menos já justificava mais o preço.


Last but for sure not the least, temos o grande Benfica e a grande contratação do grande Jesus. Na conferência de imprensa de apresentação demonstrou, logo, qual deve ser o verdadeiro espírito de um treinador do Benfica quando disse: "À semelhança do que aconteceu em todas as equipas por onde passei, os jogadores do Benfica, para o ano, vão jogar o dobro do que jogaram este ano... E o dobro se calhar é pouco." Foi desta forma elevada e seimpática que Jorge Jesus, o Rei da Táctica, passou um atestado de incompetência não só a Quique Flores, mas a todos os treinadores que o antecederam em todos os clubes por que passou.
Com um discurso ambicioso e corrosivo, as suas tácticas infalíveis, uma farta cabeleira grisalha e a forma determinada como masca chiclete no banco de suplentes, Jorge Jesus concilia o estilo de grandes treinadores europeus. É um José Mourinho com a quarta classe, um Guardiola de água-doce, um Trapattoni de algibeira e um Alec Fergunson de trazer por casa.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

quinta-feira, 28 de maio de 2009

A notícia

Como virá a notícia?
Na folha fria de um telegrama,
ou no quente abraço de um amigo?
Sussurrada por alguém que me ama,
ou anunciada por um estranho, ao postigo?

Como chegará a notícia?
Vestida com seu roto manto
de comiseração e lamento,
ou despida no negro espanto
de um claro pressentimento?

Como chegará a notícia?
Na pretérita surpresa
das páginas de um jornal atrasado,
ou na dolorosa presteza
de um telefonema enervado?

Como virá a notícia?
Caída nas folhas ventadas
pela rouca voz do Outono,
ou dita pelas flores petaladas,
estonteadas de sono?

Como chegará a notícia?
Com a aurora sobressaltada?
No repouso de um dia de sorte?
Como chegará a notícia
da tua morte?

sábado, 16 de maio de 2009

Parabéns

Num quarto fechado, sem janelas, equipado com iluminação eléctrica, a diferença entre a luz e o escuro cifra-se num mero interruptor. The old english saying: on/off. No quotidiano das sociais relações, as trevas e o amor ocupam os mesmos espaços e os mesmos agentes, tornando tarefa herculiana distingui-los, com suplementar característica da mesma coisa ser hoje amor e amanhã trevas. Neste inconhecimento inultrapassável, resta viver cada tempo diário. Isto hoje porque é dia do aniversário dela, dela sinónimo de Trevas, antónimo de Amor, outrora o inverso.

Permito-me, agora, em jeito de prenda de aniversário, lembrá-la no tempo de Amor. Anotem: alta,inteligente, bonita sub e objectivamente, magra, activa e cultivadora de humor abstracto. Mais não consigo porque é este diabo que só me contacta para falar do Dinis. Sempre só do Dinis, nunca de mim e nunca do antigo apaixonante sorriso dela.

A pergunta é a seguinte: como nos transformamos nós em cães abandonados e elas se mantêm tão equidistantes ao que, idos tempos, chamaram de paixão e amor? A resposta, que não atrevo a covardemente guardar, está na sua condição maternal.

domingo, 3 de maio de 2009

Pedaços de Prosa III

Hoje novamente o Sol, filtrado por um limpo horizonte do céu, e a alta temperatura empurrada pela ausência de vento. Quando será tempo de deixar este sono inacabado de ontem dominar-me num pós-almoço? Quando será tempo de me permitir impor o meu relógio biológico sobre a ditadura das responsabilidades profissionais?
Férias a resposta, desde que devidamente acentuada a palavra, pois "ferias" é já o que este Sol me faz ao gritar-me que desprezo o gozo que ele, em potência, me permite, pela sinfonia de relax que me destina. São nesses autênticos bordéis, mundanamente chamados de esplanadas, que onteontem me rendi ao Deus Sol.
Contei os pássaros pousados, mas vivos, em plena Avenida dos Aliados; ri-me, em ligeira troça de mim, invejando os vestuários informais dos turistas; li o nome das lojas, rés-do-chão; primeiro e segundo andares; bebi o café; lembrei-me dela e compensei engolindo água. Foi, então, hora de me abandonar e regressar aos outros, aos problemas dos outros, afinal a definição real de Advogado.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Prima

Não subestimes a importância da rima,
minha prima.

O que seria do grilo
se não o ouvissem dizer aquilo?

Passava pelo poema
sem resolver o problema.

Assim, não diz mais do que diz,
mas pelo menos é feliz.

Dir-me-ás que cá não faz nada.
Não sejas precipitada.

Se sete versos acima o pus
foi para lhe dar uma luz.

Descobre-a por ti, se puderes.
Para isso Deus fez as mulheres.

E se o colocasse no fim,
Seria grilo ou jasmim?

quinta-feira, 16 de abril de 2009

THE DAY AFTER

Quando se perde, tudo se disseca.

A meu ver, embora muito fique por abordar, restando outras explicações plausíveis, destaco dois motivos que ditaram a nossa eliminação da prova rainha europeia:
- a má entrada da equipa neste 2.º jogo, parecendo estranhar o posicionamento de um excelente quarteto ofensivo: giggs, rooney, ronaldo e berbatov (e inerente dinâmica posicional entre todos eles);
- a realidade do valor das equipas. Na passada semana, defrontamos um Man. Utd. sem duas unidades fulcrais, Rio Ferdinand e Anderson, dando uma pálida e desfocada imagem do poderio dos britânicos. Ontem, com uma defesa segura e, sobretudo, bem mais confiante e com um super meio-campo, onde o Anderson é um Sr. Futebol (um médio com tudo e com tudo em prol do colectivo), o MU domou e conteve o Porto, recuando a sua linha defensiva (sobretudo na 2.ª parte) e sabendo defender perto da área, eliminando espaço para as tão hábeis transições rápidas do Jesualdo e que se viram há oito dias.

Estes dois elementos explicam a não passagem, lembrando o que já se sabia: faltam suplentes ao Porto, que permitam, durante o jogo, alterar a filosofia de jogo. Assim caímos, com muito brilhantismo, pelo longo percurso europeu. A grande vantagem da não passagem da eliminatória será a manutenção dos principais valores da equipa (excepção feita para o Bruno Alves), o que, aliado a mais um ano de Jesualdo, decerto nos colocará nos quartos de final da próxima edição da Liga dos Campeões.
Força Lucho. Até ao ano, Europa.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Administra, São

(Numa qualquer repartição)
- Mini, saia! Vá vestir uma roupa decente.
- Mas patrão...
- Nem patrão, nem meio patrão. Na Loja do Cidadão não há depravação.
- E a minha cidadania?
- Pode exercê-la noutro dia. Ao fim de semana, se quiser.
- Mas eu sou uma mulher. Agora já não me posso arranjar?
- Arranje-se como quiser, mas não quando vem trabalhar. Vá, abotoe a camisa.
- Sabe do que este país precisa? De um terramoto, para ter com que se preocupar.
- Mau, já está a abusar...
- Acha que estou a abusar? Isto é que era abusar (abre a camisa por completo ficando em soutien, perante o olhar estupefacto das pessoas que se encontravam na fila)... Voltamos ao tempo de Salazar.
- Mini, olha as pessoas...
- Deixe-a estar que são bem boas! (grita um jovem atrevido)

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Pedaços de Prosa II



Mais ninguém o ousa exclamar, mas em solitário ecoar, eu grito:
Este Sol é ilusório,
não que não exista, mas a acção dos seus raios não se revela fonte bastante para aquecer a sombra, situada na sombria fachada suja do prédio, onde repouso o tempo e, na boca, o cigarro, antes de investir elevador acima - sim, porque eles também descem -, em direcção à quotidiana secretária e banal papel branco.

Não temo de frio, embora arrepie a alma, pela mentira que vendo todos os dias ao Dinis. Na concretização de carácter e convicções íntimas dos seus quinze anos, receio que declare tréguas à resistência a este belo prazer de adocicar a alma, adormecendo a ansiedade. Não irei fumar, já me dissera aos treze, mas um pai incapaz de se controlar, sempre receará o mesmo erro do seu filho.

terça-feira, 24 de março de 2009

Tempestade num copo de cerveja

Quando o morto começa a feder o melhor mesmo é enterrá-lo. Já passaram três dias sobre a fatídica final da Taça da Liga e ainda não se fala de outra coisa: o Sporting demite-se da liga; o Benfica emite comunicados; o árbitro assistente é um benfiquista dos sete costados; a Comissão Disciplinar da Liga vai abrir inquéritos a metade da equipa do Sporting; o Lucílio Batista recebe ameaças de morte, etc, etc.

Sinceramente, há uma coisa que, desde Sábado, me está intrigar sobremaneira: quando uma equipa está a ganhar por um - zero e sofre um golo, o resultado passa a ser um a um, certo? Se bem me lembro, e corrijam-me se estou em erro, a lei 10 das Leis do Jogo (futebol de 11, entenda-se) dispõe que quando as equipas marcam o mesmo número de golos o jogo é considerado empatado, certo? Os jogos de futebol de séniores têm a duração de 90 minutos, sendo constituído por duas partes de 45 minutos e um intervalo que não deve exceder os 15 minutos, certo? O jogo de sábado não acabou aos 74 minutos, pois não? O meio oficial de desempate na final da Taça da Liga é a marcação de pontapés da marca de grande penalidade., não é assim?

Meus amigos, os dirigentes do Sporting querem convencer-nos da verificação de um nexo de causalidade que os próprios nunca conseguirão provar: a derrota do Sporting não ficou a dever-se ao erro flagrante da equipa de arbitragem. O empate no jogo, sim. A derrota, não. Esta é a verdade dos factos. Qualquer tese em contrário não passa de pura especulação, de uma colocação de hipóteses indemonstráveis.

Erros de arbitragem vão existir sempre. O mesmo se diga sobre os falhanços dos jogadores, treinadores, dirigentes e até mau comportamento de adeptos.

A sociedade aceita de forma pacífica (e como podia não aceitar) algumas alternativas à verdade absoluta. Veja-se o caso da Justiça. Busca-se no tribunal a verdade material mas, quantas vezes, esta é impossível de alcançar. A Justiça basta-se com a verdade meramente formal, muitas vezes errada. No futebol, os paladinos da verdade, procuram encontrar a verdade absoluta, a todo o custo. O futebol é feito por Homens e para Homens. O erro é inerente. Quem decide tem de o fazer em milésimas de segundo, condicionado por factores exógenos (ângulos de visão, movimentos dos jogadores, direcção da bola, comdições atmosféricas, luz artificial, etc.) e endógenos (estados de espírito, fadiga física e mental, pressão provocada por dirigentes, mass media, avaliação do observador, etc.). A verdade será sempre subjectiva: de quem decide. Apenas podemos exigir que os juizes do jogo estejam preparados tecnicamente para que a sua subjectividade esteja, quase sempre, em consonância com aquilo que, por vezes, é objectivamente correcto. Muitas das vezes a subjectividade de quem decide apenas não está de acordo com uma outra subjectividade: a do sujeito da decisão. Contudo, não quer dizer que esta seja a correcta.

Pá, acabem com a palhaçada. Tudo o resto são utopias.

sexta-feira, 20 de março de 2009

TWO HANDED - IV

Na língua falada é rainha a preguiça, com os "tá" ou outras reduções no palavreado, palavra do senhor Veado, respeitoso tratamento às violetas brasileiras, não fosse larilas sinónimo de lilás. Já a esta hora os puristas da cor reclamam distinção entre o lilás e o violeta, o que returco, dizendo que mais puro do que o preto não há, afinal a ausência de cor. Turco é quem nasce em Istambul, ainda que o bule de chá seja mais costumeiro em terras britânicas, onde é lei a common law."Come on, come on, come on Eileen", bela música dos Laboralistas, num incentivo ao activismo político, não de actor mas de perpetuador do bem comum, fossem lá os políticos capazes ou mestre de obras.

Mas o mestre de obras não gosta de cobras, ali no Jardim Zoológico... Na verdade é um pouco ilógico guardar animais em jaulas ou até putos nas aulas. Concordo mais com os gregos e as suas lições peripatéticas. Um tal de Walt ainda tentou criar as lições peridonáldicas mas verificou que havia uma enorme dificuldade de compreensão por parte dos alunos, aqueles que negam a existência da lua. A Lua, esse sítio onde se dão passos gigantes para a humanidade, mas ainda não descobrimos a cura para a humidade. É que chega-se a uma certa idade e aquilo dá cabo dos ossos, essa conhecida patente da GNR que combate a osteoporose, ou criação de poros na hóstia, corpo de Cristo, Amen. Pela Zoológica, a hóstia devia ter recheio de morango e cobertura de chocolate, ou seja, chocos cobertos de leite. O leite misturava-se com a tinta e depois ia ser a bonita, com a língua sarapintada. Estás pintada, Sara?

quarta-feira, 18 de março de 2009

Pedaços de Prosa I

Perante o frio, sempre gostei de erguer o queixo, cerrá-lo firme, cortando a pequena frente de ar frio, que se me destina. A isto acrescento o emergir da gola do sobretudo. Foi assim em Dezembro, décimo segundo mês do ano 2008, à católica maneira contada. O povo, em tema de conversa desesperada, debruça-se, amiúde, sobre ele, queixando-se, elegendo-o como responsável pela maleita social, em co-responsabilidade com o fenómeno da pluviosidade, que nem por alimentar a nossa agricultura merece indulto popular. Sois o diabo, chuva e frio, talvez até por isso: ser o plural de Sol, Sóis.

Arrepio, não o caminho, mas o corpo em involuntário acto, no entanto, perfeitamente consciente. À memória, acorro-me pousado numa toalha de praia, em pleno Verão, em pleno nada fazer, senão aquietar-me de sono. Nisto se finda o repouso e acordo: afinal são 18 de Março de 2009, estão largos 18 graus Celsos, pelas 08h matinais. Ao quente fui, mesmo sabendo aguardarem-me montes de letras imprimidas, em pouco atraente papel. Ler e calor, o binómio que não domino

segunda-feira, 16 de março de 2009

Uma Vénia


Dir-se-á que o mais virtuoso é aquele que melhor usa as suas qualidades, potenciando-as ao limite e minora ou camufla as fraquezas. Assim está o F. C. do Porto. Venho, muito humildemente, aplaudir o Prof. Jesualdo Ferreira e o apogeu do seu futebol, mesmo contra uma equipa fechada como a Naval. Retracto-me, em parte, da falta de crença na filosofia do professor das transições rápidas e futebol directo, que afinal rumam a bom porto, haja colectivo, como de facto há (com muito apoio e excelente ocupação colectiva dos espaços). Este momento de forma é dos jogadores, mas é sobretudo de quem os dirige. Não sendo, nunca, esta a minha filosofia de jogo (prefiro o futebol com posse de bola, muito à Barcelona), tenho de ceder perante a eficácia do Professor, quer contra equipas com defesa alta, quer (finalmente) contra equipas com o bloco defensivo muito recuado. Eis então a virtude do Porto: retirar da soma individual dos jogadores, um plus imbatível. À Europa, que o Burgo já é nosso!

quinta-feira, 12 de março de 2009

Crónica de um Guarda-Redes amargurado

O que faço aqui? Que jogo é este? Puxei as redes por seis vezes, e sempre o mesmo peixe redondo, sem cheiro, sem cor, intragável.
A minha equipa, digo, os meus colegas (já não somos uma equipa) discutem entre si, trocam palavras ferozes e ingratas... e na verdade, cada um consegue apenas ouvir a sua voz própria voz, o eco abafado da solidão.
Deitam os olhos à relva... a relva desesperantemente verde, bem aparada para que a bola continue a correr de forma natural, a prolongar a nossa tragédia e a minha vergonha. Porque não se enrola simplesmente, como uma língua felpuda, e nos afoga a todos na sua saliva de terra?
Se ao menos pudesse ter-te aqui, mãe... Pousar a minha cabeça em teu regaço e acabar com o sofrimento. Deixar que as tuas palavras doces me beijassem os ouvidos e me acariciassem as pálpebras até adormecer: "Não te preocupes, está tudo bem."
Mas olho para a frente e vejo-os avançar, furiosamente. Atacam com o mesmo apetite voraz de há cinco minutos atrás... Não têm fome, já não podem ter fome, mas continuam a comer, insaciáveis. Falam uma língua estranha, não percebo o que dizem. Tem um timbre forte, grave, autoritário. Parece que estão constantemente a dar ordens uns aos outros. E cumprem-nas... Cumprem-nas de forma diligente e eficaz.
Que engraçado... ocorreu-me uma música. Há muito tempo que não a ouvia. E ouço-a agora, inesperadamente, na minha cabeça. O que a terá feito surgir aqui? Tento sibilar o refrão. Não me lembro da letra. Mas é uma boa música, sem dúvida. Fica no ouvido.
E eles avançam... Um jovem possante corre desenfreadamente com a bola, pelo lado esquerdo. Leva um rastilho aceso nos pés. À medida que ele avança, o rastilho vai-se consumindo. Quando estiver mais perto de mim, o rastilho chegará ao fim e o canhão das suas chuteiras irá disparar, com estrondo, uma bola de fogo. Tenho de estar pronto... Desta vez estarei pronto.
Cerro os punhos. Uma gota de suor percorre-me a cara. Não devia ter cortado a barba hoje de manhã. O suor abrasa-me a pele. Nota mental: não voltar a cortar a barba em dias de jogo. O rapaz avança. Temos a mesma idade. E no entanto, invejo a sua força, a sua velocidade, a sua determinação. Passo uma luva pelo queixo, para tentar limpar o suor. O rapaz avança. Num gesto rápido, esfrego as luvas na camisola. Ele está cada vez mais perto. Flicto as pernas. Ele puxa a culatra. Abro as mãos. Arregalo os olhos. O coração galopa. Ouço o canhão. A bola voa... Lanço-me com todas as minhas forças para a abraçar no meu âmago, para que ela nunca mais me faça infeliz...Os meus dedos esticam-se o mais que podem, os meus braços crescem enquanto salto. Todo o meu corpo quer aquela bola. O meu peito quer aquela bala. Eu sou o guarda-costas que se lança de forma altruísta para salvar o presidente e o país. Eu sou um Deus que quer agarrar o Mundo e torná-lo um mundo melhor, para sempre... Eu sou um pássaro... Sou o vento...
Mas de repente, o mesmo silêncio. Um pequeno istmo que separa o fragor das bancadas daquele som seco e prolongado da bola que bate na rede.
Caio desamparado no relvado, qual Ícaro desenganado.
O jovem que fala uma língua estranha vira-se para os seus colegas e sorri de forma cruel. Olha para mim com ar piedoso, o que o torna ainda mais cruel.
Já ninguém festeja o golo. As pessoas limitam-se a rir. Nas bancadas, soltam-se gargalhadas sonoras e trocistas. Homens, mulheres e crianças, todos se riem do nosso desespero, da nossa trágica incapacidade para travar as rodas dentadas da máquina voraz que nos continua a mastigar e engolir sôfregamente.
Todos riem. Todos riem menos nós. Visto do céu, o estádio é uma enorme boca de língua verde que ri alarvemente.
Olho o mister. Senta-se calmamente no banco com olhar autista. Não há nada a fazer. Nunca houve. É o destino. Estamos tristes... Mas do outro lado há muita gente contente... Se calhar há mais gente contente do que triste. Menos mal. É melhor assim.

domingo, 8 de março de 2009

Mulheres de Ninguém I - Dioptria

Dipotria, meu amor,
espelho da minh'alma enevoada.
A terra é uma seara de dor,
o mar ondas de sargaço.
Mas se o peito repouso em teu regaço,
olho a terra e o mar: não vejo nada.

Aceita estes ósculos graduados
como prova singela do meu encanto.
Todos os males sofridos são passados,
o bem é presente e não futuro.
Amemos nossos corpos no quarto escuro.
A luz é pérfido quebranto.

A ver no mundo só escolhos,
prefiro, meu amor, ter-te nos olhos.

sexta-feira, 6 de março de 2009

PRORSUS II



Uma simpática hipérbole no nosso HAIKU II, que grita o prostrado anacoretismo, que a hodierna sociedade instiga, em subliminar chantagem, o comum e concreto cidadão. A, há muito inventada, Democracia, que historicamente emergiu com a Revolução Francesa (ou já surgira na cidado-estado de Atenas, na longínqua Antiguidade Clássica) está em nítida crise, desacreditada pelas ineficientes políticas estaduais, não direi tanto ao nível económico, mas social (educação, saúde e justiça), democracia essa como base política para atingir uma equitativa qualidade de vida.

Não foi aleatória a escolha do melro: é uma ave que se adapta bem ao tecido urbano e um simbólico animal que exclama o anonimato social e a individual sobrevivência, regada com egoísticos e mundanos satisfazeres.

O desafio futuro e planetário é óbvio: entusiasmar as massas sobre as virtudes da democracia e, nesse exercício, talvez fosse fácil começar pela brilhante frase de Sir Winston Churchill: “A democracia é o sistema político mais imperfeito, à excepção de todos os outros.”. Isto, bem aprendido, deveria ser o suficiente para suscitar a intervenção plural das pessoas na democracia, com duas consequências mais imediatas, independentemente da intervenção como actores directos na cena política: a primeira, uma melhor consciência no sentido de voto, uma melhor responsabilização pela opção partidária ou no candidato, consoante a eleição sub judice; a segunda, mais ambiciosa, terminar ou minorar o constante e aborrecido desculpar do fracasso social, com a inoperância ou incompetência dos políticos, não que os considere competentes, mas porque abomino a crítica que não oferece a resposta.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Haiku II













Um melro triste
o seu luto repousa
na amendoeira.

terça-feira, 3 de março de 2009

Two Handed III - Esgotamento

Chovia enquanto o cego atravessava a rua, vendo ao longe uma bela charrua, na qual nunca ninguém fumara, senão o cocheiro, que jamais cheirara o salitre ou agarrara uma concha empurrada para fora da água e borda fora fora o Peter Pan, que nunca teve em sua mão uma pá ou apanhador. Noto, se me permitem, ser deveras complicado correr o bastante para interceptar a dor, sobretudo aquela súbita e inesperada que nem uma pontada, na barriga que merda quer expelir. Impelido à força do músculo anal, eis que ele exulta recto fora e mergulha decidido, no poço, túnel imenso, sem luz, dia ou noite, mas apenas com comparsas nojentos, que nem disfarçam a farsa de mau cheiro, que já nem denotam. Um dia, à socapa duma estranha gravidade aquática, desaguam num salto de ponta de esgoto, em direcção à agitada onda do mar, que domada só por engano, por força da edificação dum paredão ou esporão.

Exporão, no futuro, os nossos netos, as fotos desse esgoto a céu aberto. Sim, porque o céu também se fecha, ao contrário de quem larga a ameixa. Por falar em largar, deNoto uma tendência do meu parceiro para este verbo ventoso. Eu prefiro o Zéfiro gentil, mailo o meu homónimo prefixo. É esse o preço pré fixo de nos darem, sem perguntar, o nome do adulterado marido por obra e graça do espirro santo, ai mãe. Cuidado para onde espirram com “ó”, meus amigos. Os milagres acontecem, como as aranhas que apanham outros insectos sem setas. Não são é muito sensatas, ao fazê-lo nas beiras das portas. Há muitas correntes de ar... e voltamos ao mesmo. Resfriados e flatulências. Já dizia a minha avó: quem obstipa constipa. Sábia teoria, corrobor(r)ada por um Doutor incontinente que a vacinou certo dia: “a cerveja alemã do Lidl resolve congestões nasais e engarrafamentos intestinais. Edifica, São”.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Equipas Portuguesas no Abroad




Hoje, quinta-feira, já depois do Braga se ter qualificado para a ronda seguinte (jogando um belo futebol, num perfeito ecletismo entre ideias tácticas dos anos noventa e outras bem mais actuais), resta pensar o futebol de terça e quarta. Em Alvalade, o menos interessante seria o resultado (como já o fora num dos jogos com o Barcelona na fase de grupos), não fosse esta, agora, uma prova a eliminar. Os miúdos (na sua maioria todos abaixo dos 24 anos) tiveram uma lição de futebol eficaz e paradigmática do que é também ser um grande jogador como Luca Toni ou Franck Ribery: ter aproveitamento, eficácia. No resto, uma vez mais o triste exemplo de uma época (ou de sempre): uma vez a perder, uma vez ameaçado o plano traçado para o jogo, emerge o desespero e o individual pensar do individual executar. Até ao ano, portanto.
Resta o meu sentido Porto, resta a equipa que imparcialmente não observo. Teimo na inadequação da filosofia do Mister Jesualdo à lógica/mística/identidade do F. C. do Porto, mas que resulta em jogos como o de Terça (defesa adversária com a linha subida), haja ainda eficácia executória. Era um sonho vencer a Liga dos Campeões, nem que praticando este futebol, daí que aplauda a vitória, mas não deixe de, mesmo nesse caso, apontar forma diversa de jogar, baseada em posse de bola continuada.

Hasta lá vitória!

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

É Carnaval...

Já navegava eu pelo alto mar electrónico (reparem na camoniana narração in media res), quando me deparei com a seguinte "adamastórica" notícia: "O Ministério Público de Torres Vedras ordenou hoje a autarquia a retirar os conteúdos da reprodução de um computador Magalhães que estavam expostos no "monumento" por considerar que se tratavam de "imagens pornográficas".
O chamado "monumento" ao Carnaval, cuja inauguração marca o início da época de folia na cidade, dedicado este ano à temática das profissões, mostra um adolescente a pensar no futuro, com um computador Magalhães, que apresentava pequenas imagens de nus femininos."

Ora, desde logo, houve uma coisa que me intrigou profundamente nesta notícia: o facto de o Minstério Público ter "ordenado" alguma coisa. Eu, que sou um reles jurista, gostaria que alguém me explicasse, com o mínimo de pormenor e rigor, que processo é este em que o MP ordena coisas, e, já agora, qual a base legal dessa ordem, bem como qual a forma que a mesma assume.
Peço desculpa pela minha ignorância, mas eu sempre quis ser jardineiro... O meu pai é que me incentivou, de forma a(cinto)sa, a ir para direito.
Não obstante duvidar da validade formal da "ordem" emitida pelo braço jurídico da República, não posso deixar de concordar integralmente com o seu conteúdo.
Mais. Os responsáveis pela brincadeira de mau gosto deveriam ser punidos exemplarmente por ultrajarem e desrespeitarem de forma abjecta esse nobre símbolo da soberania nacional que é o "Magalhães". Se dessem um toquezinho de samba à "Portuguesa", ou utilizassem uma bandeira para aquecer as mãozinhas, não era coisa grave... Agora, gozar com o Magalhães, nunca! Isso não é um crime contra o estado, é um crime contra a própria humanidade.
Ainda para mais, querendo insinuar que os adolescentes utilizam o computador para ver pornografia. Além de ser de um profundo mau gosto, é de uma falta de originalidade atroz. Toda a gente sabe que adolescentes que utilizam os seus Personal Computer's para ver pornografia é coisa que não existe.
É isso e gajas nuas no Carnaval. Não combina, pronto.
Por isso, para mim, está muito bem ordenado, Sr. Ministério Público.

Ah. Sporting - 3 Benfica- 2

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Análise da Jornada ou A Ascensão e queda do futebol português




(Capa do jornal A Bola de 16.02.2009, in www.abola.pt)
O nosso campeonato sempre foi sítio hospitaleiro para grandes goleadores, quer estrangeiros, quer portugueses, conseguindo alguns deles tornarem-se, mesmo, os reis da Europa - vejam-se os casos de Eusébio, Fernando Gomes ou Jardel.
Contudo, de algum tempo a esta parte, a pequena semente da mediocridade tem vindo a medrar silenciosamente no seio da outrora fértil terra dos relvados portugueses. O que até se compreende e aceita, tendo em conta a actual conjuntura económica e financeira que obriga os clubes a preterir a qualidade dos jogadores em razão do preço dos mesmos - ou seja, como quem comprasse jogadores na loja dos chineses.
Este difícil período não fazia, no entanto, prever a catástrofe natural que assolou o nosso campeonato no passado fim-de-semana.
Aquela pequena erva daninha de medicridade tornou-se, da noite para o dia, uma árvore enorme e frondosa que cobriu de negras sombras os nossos arejados e coloridos estádios.
Os efeitos catastróficos de tal fenómeno (sobre)natural fizeram-se sentir particularmente de forma mais intensa em Belém, no Dragão e na Luz.
Foi nestes famigerados recintos que os infortunados espectadores tiveram oportunidade de assisitir a um dos espectáculos mais degradantes e humilhantes para o nosso futebol: os golos de Hélder Postiga, de Ernesto Farias de Di Maria.
Quando jogadores desta craveira técnica marcam golos pelas respectivas equipas, e mais, quando os seus golos são decisivos para a vitória dos seus clubes, é sinal de que algo está podre no reino da Liga Sagres.
Meus amigos, é oficial: o futebol português está prestes a bater no fundo. Quando um clube, por muito pouco dinheiro que tenha, não encontra Guarda-Redes ou Defesa Central capaz de parar os remates desengoçados destes maçaricos, não vale a pena procurar mais... Mais vale fechar a loja e abrir um clube de bilhar, ou até de malha ou sueca, se a massa não for muita.
Acho que em situações desta gravidade, a F.I.F.A. devia intervir e ordenar a suspensão de todas as competições futebolísticas nacionais até se apurarem os responsáveis por tais irresponsabilidades, após um inquérito rigoroso e exaustivo.
Não estejamos com paninhos quentes, ou falsos optimismos. A situação é preocupante... Tanto mais porque no próximo fim-de-semana é jornada de derby. Sabe-se lá o que pode acontecer: o Balboa a fintar um adversário? O Miguel Veloso a sprintar? O Bynia a jogar 2 minutos sem ver um cartão? Ou ainda pior, o Paulo Bento a fazer risca ao lado...
E ainda dizem que o dia do azar foi sexta-feira 13. Né?Né?

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Que dia é hoje?

É cedo.
O medo assaltou-me o torpor dos sentidos
na madrugada.
O caminho começa
muito antes da estrada.
Saio para a rua sob as luzes da cidade,
já quase inúteis ante a aurora inevitável.
A velha peixeira embrulha um sável
numa folha de jornal.
Um homem passa de mãos nos bolsos
e cospe uma tosse antiga e mortal.
Uma puta olha-me sem qualquer langor,
descrente na lua e no amor.
Que dia é hoje?

É tarde.
Os sentidos entorpeceram-me o assalto da hora.
A estrada acaba enquanto caminho.
Saio para a cidade sob as luzes da rua,
já quase inevitáveis ante a noite inútil.
Um velho jornal embrulha a peixeira.
Uma tosse antiga e mortal
cospe a mão de um homem que passa.
Uma lua olha-me sem qualquer langor,
descrente nas putas e no amor.
Que dia foi hoje?

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

JORNADUS VISTAS

Numa noite de muita alma ao rubro, o espectáculo não defraudou bandeiras de entusiasmo. Foi emotivo. Ainda assim revelou-se previsível, com a estratégia portista de transições rápidas a diluir-se à medida que o Benfica melhor interpretou e aplicou mecanismos de contenção. Pelo meio, simpáticos golos de bola parada a destoar a regra de cautelosa normalidade, recíproca e frequente nestes clássicos. A reter, a tristeza dum portista - a minha, talvez partilhada por outros - de que falta um "armador" de jogo. Lucho é, principalmente, um médio de cobertura (jogou muito a interior direito), ainda que com uma magia de toque de Midas na bola, mas não chega à irreverência e imprevisibilidade dum construtor de jogo. Ao Porto, faltam, pois, jogadores, já que do banco nada surgirá. Quanto ao Benfica, uma soma de jogadores desmotivados, sinónimo de emprestados, que está em pleno processo de construção, começando pelo óbvio: defesa, que diria já relativamente eficiente. O ataque, esse, apareceria na próxima época, mantivessem eles os jogadores. E Alvalade? Tardam em calejar os miúdos, que tardam em sair do clube... Foi justa a vitória dum Braga muito ex-azul, ou não tivessem Luís Aguiar, César Peixoto, Renteria, Alan, entre outros, sido essenciais em mais um bom jogo dos arsenalistas, todavia muito aquém do augúrio do início de época: Braga candidato a campeão. Até à semana.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Two Handed II

Libertem as Portas da Alta Merda ou, em inglês, Freeport de Alcochete. Primos e tios à parte, permitam-me um aparte inquiritivo bem directo: quando pára de chover? Isto dito ou aqueloutro pensado, ainda não me dou por terminado, ainda que minas não tenha e descampado só um quintal de traseiras largas, mas sem vista para a rua que não se destrói ou cai, mesmo sendo rua o presente do conjuntivo do verbo ruir. Palavra tão em voga se junta com economia de mercado, que o digam ou apenas o chorem os clientes do BPN, que, em sigla irreal, se lê Bando Paliativo de Notas. Denotas o quê?"

Denoto uma subtil inveja das gentes AmAricanas e o seu sonho de traseiras largas... tanto MacDonald’s é no que dá. Por cá, estamos com os azeites, com o nosso pequeno Watergate... ou Portão de Água, como diriam os espanhóis. Mas não vos preocupeides...Há-de parar de chover mais depressa do que a Liga saberá fazer regulamentos e o Conselho de Justiça fará aquela que o seu nome pretensiosamente propõe. Amanhã seremos juniores novamente – como o estranho caso do outro – e mais Madrid aqui tão perto , ainda que sem TGV. Toda a Gente Vê que é tão longe daqui a Lisboa como de Lisboa aqui. Se amanhã estivermos verdes, no Sábado seremos maduros... e talvez mais duros, dependendo do estado do terreno – solteiro ou molhado.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

TWO HANDED - I

É fácil compreender a origem da máquina a pedais, com duas rodas, dita bicicleta: dois ciclos, duas rodas e força nos pedais, pese embora o outro dissesse nas canetas. No tempo desse belo ícone, chamado Esteves, celebrava-se o humor irónico, subliminar e bem assertivo, hoje, congelados os fedorentos, não sobra resquício de graça, nem a pagar. Minto, não falta aí teatro do cómico, afinal um guloso comedor de palcos, mentirosamente denominado de La Féria, mas dos mais obstinados workalholics. Ora, aqui reside outro insofismável erro: ser o álcool um combustível de trabalho, quando mais de meio mundo e outro resto igual sabem qual o seu uso ou gozo.Quase em rima, digo ócio, sem que o cio aparecesse naquela Cadela muda, que só cheirava cegos, locais onde os egos se perdem e humildemente se buscam significados amplos de vida, como uma bela quinta com piscina, ainda que sem degraus ou armadilhas dissimuladas, não fosse o ego do cego ao céu parar, pela morte irreparadamente acontecida.

Entre altos e baixos, vão-se os pedais e ficamos a penantes, como dantes. Já cá não está quem Esteve(s). Gatos congelados, coelhos contemporâneos, Filipes de Espanha ou Pedritos de Portugal, o humor é tão aquoso como o pior cego é preguiçoso. Aqui reside outro insofismável combustível de trabalho: o álcool é um erro. A duas mãos e um só braço dizemos a loucura do bagaço, sem bagaço. Mas ninguém diga que a falta de senso é insensibilidade. Antes prefiro ser sensor do que censor... E no ascensor social quedar-me no modesto rés-do-cão, o tal que correu atrás da Cadela muda. E mudou... No fundo, toda a gente sabe que uma cadela muda de ração (e de razão) como quem muda de caninos. Só em Abrantes, tudo como dentes. São significados amplos de vida: uma quinta, uma psicina, quiçá até um horto gráfico onde se cultivem erros e couves galegas, ou até acordos com os PALOPS. Pá, Lopes, eu bem te avisei que a crise se ia acentuar gravemente (ou será esdruxulamente)? Agora não te queixes. Dedica-te à agricultura... Ali para os lados do Rivoli anda um gambozino no telhado. Isto está tramado, Lopes. Isto está, tramado.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

HUMIDADE



Ele há chuva, talvez esta das mais fáceis descobertas do Homem, restando os lapsos infinitos de tempo seguintes para a explicar. Nisto serão decisivas regras como a da gravidade, não em forma problemática, mas em simples forma “cai lá de cima”; bem como a deslocação do ar, criando altas e baixas pressões… Ainda lembro de, em aula de geografia, conotar com o mal ou o diabo o terrível “B” de Baixa Pressão. Era assassino e condenatório: “Naquela zona do mapa vai chover.”. Mas há quem goste da chuva – os chamados chauvinistas –, eu, pelo menos, quando me leva o carro, mas apenas por fora.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

E o sonho tornou-se realidade

No dia em que o novo presidente dos Estados Unidos tomou posse - 46 anos depois do célebre e profético discurso de Martin Luther King, produzido em Memphis, sul dos Estados Unidos - vale a pena deixar aqui um pequeno excerto de um sonho que, certamente, nunca fora tão colorido e ambicioso.
Independentemente das ideias políticas, do plano de governação, da maior ou menor resistência aos lobbies que Obama poderá evidenciar, é inegável que a sua simples eleição representa uma mudança radical - e, espero, definitiva - na maneira de pensar da América e do Mundo. Ainda há um longo caminho a percorrer na luta contra o racismo e a xenofobia que, utopias à parte, nunca desaparecerão da sociedade. No entanto, é um privilégio poder viver e assistir a um facto de tão elevada relevância histórica, qual seja a primeira eleição de um presidente negro num país que apenas aboliu a escravatura em 1865, quase cem anos depois do nosso Portugal.

«Eu hoje tenho um sonho!
Tenho o sonho de que um dia todo o vale será exaltado, e todo o monte e todo o outeiro serão abatidos: e o que está torcido se endireitará, e o que é áspero se aplainará. E a glória do Senhor se manifestará e toda a carne juntamente verá.
É esta a nossa esperança. É esta a fé que eu vou levar comigo no meu regresso ao Sul. Com esta fé seremos capazes de talhar da montanha do desespero um calhau de esperança.
Com esta fé seremos capazes de transformar as estridentes desanifações da nossa nação numa bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé seremos capazes de trabalhar lado a lado, lutar lado a lado, ir para a prisão lado a lado, bater-nos pela liberdade lado a lado, com a certeza de que um dia seremos livres.
Vai chegar o dia, vai chegar o dia em que todos os filhos de Deus irão poder cantar com o mesmo sentido: "O meu país és tu, doce terra de liberdade, e a ti eu canto. Terra onde os meus pais morreram, terra de orgulho dos peregrinos de todas as vertentes da montanha, que soe o sino da liberdade!" E se a América quer ser uma grande nação isto assim terá de ser.»

Martin Luther King, in "Grandes Discursos Políticos", Editora Ausência, 2005

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

PRORSUS – I

Silêncio branco em muito contraria o mito do silêncio ser de ouro, soubessem isso os Alquimitas e pugnariam apenas por conquistar o silêncio, afinal a dita forma perfeita de som (Pedro Abrunhosa dixit). Sempre que o termo “perfeito” aparece lembro-me dos presidentes de Câmara, o que acarreta pensar em Corrupção, ao fim e ao cabo um vulcão em pleno automóvel.

Em Itália, desde que os vidros não transpareçam o interior do automóvel, nada de ilícito há no acto de … envolvimento passional, isto é, usar uma palavra-passe em português, tão bela escarpa ocidental-marginal do Europeu Continente.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Haiku - I

A neve pousa
na cidade plúmbea.
Silêncio branco.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

POLÍTICA ESFÉRICA

Ocorreu ontem a tentativa de fuzilamento de Sócrates. Então? Não havia ele morrido por envenenamento na ida Antiga Grécia? Tentativa, pois houve momentos alguns não aproveitados pelos Srs. Entrevistadores (ler comentadores) em que deram espaço a uma resposta. Se dividíssemos a "entrevista" em 100 momentos, talvez em dez deles os ditos Srs. Entrevistadores tenham esperado a resposta do P.-M. Post-midnight? No meio da noite, são já 04 horas da matina o que em nada combina com matinal ser da manhã. Quem bem amainou foi a nau encarnada, perdendo a liderança na regata da Liga Sagres: nisto aplauda-se o Desporto, permitindo tão lauta variedade de líderes: Sporting, Leixões, Benfica e F. C. do Porto: ao menos, ao início e ao meio, há democracia; no fim nem se hestie: a normalidade azul Norte!

Sócrates esteve Reguila, contra uns jornalistas que não são Tulipas que se cheirem. O discurso da esperança saloia já não pega. Há que enfrentar o touro pelos cornos e não ficar à espera de uma mente brilhante que, qual messias ou Barbosa, venha resolver tudo com um só toque. Todos temos cérebro. Pensemos, irmãos… antes de pôr a mão à bola ou à bala.

Não há volta a dar, é altura de entrar pela Madeira dentro. O CR 10 do Dragão fez chorar o CR 7, que foi o melhor do mundo sem saber andar de bicicleta.

Na febre de Sado à noite, não há vento que leve tudo e mais o levezinho. O Carriço puxou de mais a carroça e os leões mal domados, sentados no banco dos pneus, saltaram que nem uma mola, em uníssonos rugidos. Calmaria, meus senhores, que a tempestade vem perto. Até lá, construiremos a arca com o Beto à baliza, digo eu. Noé?