quinta-feira, 23 de abril de 2009

Prima

Não subestimes a importância da rima,
minha prima.

O que seria do grilo
se não o ouvissem dizer aquilo?

Passava pelo poema
sem resolver o problema.

Assim, não diz mais do que diz,
mas pelo menos é feliz.

Dir-me-ás que cá não faz nada.
Não sejas precipitada.

Se sete versos acima o pus
foi para lhe dar uma luz.

Descobre-a por ti, se puderes.
Para isso Deus fez as mulheres.

E se o colocasse no fim,
Seria grilo ou jasmim?

quinta-feira, 16 de abril de 2009

THE DAY AFTER

Quando se perde, tudo se disseca.

A meu ver, embora muito fique por abordar, restando outras explicações plausíveis, destaco dois motivos que ditaram a nossa eliminação da prova rainha europeia:
- a má entrada da equipa neste 2.º jogo, parecendo estranhar o posicionamento de um excelente quarteto ofensivo: giggs, rooney, ronaldo e berbatov (e inerente dinâmica posicional entre todos eles);
- a realidade do valor das equipas. Na passada semana, defrontamos um Man. Utd. sem duas unidades fulcrais, Rio Ferdinand e Anderson, dando uma pálida e desfocada imagem do poderio dos britânicos. Ontem, com uma defesa segura e, sobretudo, bem mais confiante e com um super meio-campo, onde o Anderson é um Sr. Futebol (um médio com tudo e com tudo em prol do colectivo), o MU domou e conteve o Porto, recuando a sua linha defensiva (sobretudo na 2.ª parte) e sabendo defender perto da área, eliminando espaço para as tão hábeis transições rápidas do Jesualdo e que se viram há oito dias.

Estes dois elementos explicam a não passagem, lembrando o que já se sabia: faltam suplentes ao Porto, que permitam, durante o jogo, alterar a filosofia de jogo. Assim caímos, com muito brilhantismo, pelo longo percurso europeu. A grande vantagem da não passagem da eliminatória será a manutenção dos principais valores da equipa (excepção feita para o Bruno Alves), o que, aliado a mais um ano de Jesualdo, decerto nos colocará nos quartos de final da próxima edição da Liga dos Campeões.
Força Lucho. Até ao ano, Europa.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Administra, São

(Numa qualquer repartição)
- Mini, saia! Vá vestir uma roupa decente.
- Mas patrão...
- Nem patrão, nem meio patrão. Na Loja do Cidadão não há depravação.
- E a minha cidadania?
- Pode exercê-la noutro dia. Ao fim de semana, se quiser.
- Mas eu sou uma mulher. Agora já não me posso arranjar?
- Arranje-se como quiser, mas não quando vem trabalhar. Vá, abotoe a camisa.
- Sabe do que este país precisa? De um terramoto, para ter com que se preocupar.
- Mau, já está a abusar...
- Acha que estou a abusar? Isto é que era abusar (abre a camisa por completo ficando em soutien, perante o olhar estupefacto das pessoas que se encontravam na fila)... Voltamos ao tempo de Salazar.
- Mini, olha as pessoas...
- Deixe-a estar que são bem boas! (grita um jovem atrevido)

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Pedaços de Prosa II



Mais ninguém o ousa exclamar, mas em solitário ecoar, eu grito:
Este Sol é ilusório,
não que não exista, mas a acção dos seus raios não se revela fonte bastante para aquecer a sombra, situada na sombria fachada suja do prédio, onde repouso o tempo e, na boca, o cigarro, antes de investir elevador acima - sim, porque eles também descem -, em direcção à quotidiana secretária e banal papel branco.

Não temo de frio, embora arrepie a alma, pela mentira que vendo todos os dias ao Dinis. Na concretização de carácter e convicções íntimas dos seus quinze anos, receio que declare tréguas à resistência a este belo prazer de adocicar a alma, adormecendo a ansiedade. Não irei fumar, já me dissera aos treze, mas um pai incapaz de se controlar, sempre receará o mesmo erro do seu filho.