segunda-feira, 22 de março de 2010

A Queda do Império Tripeiro do Ocidente


Mais uma vez falhamos a conquista dos Algarves.
Partimos para a longa viagem com parcos sustentos de fé e sem um dos nossos melhores guerreiros, ferido em combate. Além disso, o inimigo estava em muito maior número. Ainda assim, uma ténue flor de esperança teimava em não sucumbir ao rigoroso Inverno das nossas almas.
Cedo a resistente se desvaneceu. Um tiro inofensivo do nosso advesário soou nos nossos ouvidos como balas de cem canhões.
O soldado responsável pela inviolabilidade das nossas trincheiras, por sinal um dos mais experientes, tentou acolher a bola de mãos abertas e ar piedoso, mas a torpe virou a face como quem nega esmola a um pedinte. Já devíamos saber que ela é fêmea livre e emancipada que recusa apaixonar-se por homens de espírito fraco.
Um olhar soturno e derivante apoderou-se das nossas tropas que logo baixaram os braços perante a inevitável revelação do destino.
O velho capitão, cuja razão foi amputada por força de ferimentos passados, vociferava contra o mundo e, entregue à bebida, evocava, enlouquecido, gloriosas recordações de outras batalhas mais ditosas.
O comandante, de braços cruzados, olhava, estupefacto e impotente, para o campo de guerra, vendo desmoronar-se a moral e o brio dos seus militares, que se confundem com a sua própria história. Como é possível que uma simples batalha possa ameaçar a imortalidade que, ainda há bem pouco, lhe parecia assegurada?
O adversário, moralizado e bafejado pela benção de Marte, investia com força, soltando um riso histriónico e triunfal que há-de assombrar-nos o sono durante noites a fio.
De braços caídos, os soldados voltaram a casa, para os seios das suas mulheres, para os colos das suas mães, para os braços dos seus filhos... Aí estarão seguros, longe da cobiça, da guerra, do mundo. Aí, onde o tempo detém a sua marcha fulgurante, poderão limpar as armas, lamber as feridas e esperar que o sol raie de novo sobre os seus elmos, para que possam acometer as suas lanças contra a inexorabilidade do fado, na busca incessante da eternidade.
Até lá, restar-lhes-á aguardar, absortos nas recordações.
Como diz o velho conselheiro de guerra: a vida não avança quando todos os semáforos da sorte estão vermelhos.

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