quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Elogio da matreirice



Se há qualidade, no nosso povo, que eu aprecio, além da propensão genética para a confecção gastronómica, é a matreirice. A matreirice é da família da manha e do chico-espertismo, mas distingue-se destas por ser mais refinada e exigir uma ciência superior. Além disso, no que diz respeito à atitude perante a lei e as autoridades vigentes, há uma diferença entre os agentes dos referidos conceitos: o manhoso contorna a lei e deixa as autoridades de mãos atadas; o chico-esperto viola a lei e exaspera as autoridades; por sua vez, o matreiro respeita a lei, obrigando as autoridades a serem coniventes com a sua actuação, mas utiliza-a a seu favor. Esta noite, no Dragão, demos uma pequena amostra da nacional matreirice.
Aproveitando uma veterana falha infantil de um Campbell ainda com "Soul", o nosso madeirense rouba a bola ao guarda-redes arsenalista, com a mesma lata que o dono da esplanada pede 5 euros por uma cerveja a um camone. Enquanto os bifes de carne importada ainda tentam buscar argumentos para esboçar um protesto com o árbitro, o ladino "islander" rapidamente põe o esférico nos pés da nossa goleadora ave de rapina, que o empurra para dentro da baliza com a convicção e naturalidade de quem está a marcar o golo mais legal do mundo.
O homem do apito, verificando o exemplar cumprimento da lei por parte dos intervenientes, apressa-se a adequar o processo à celeridade das partes e limita-se a homologar a passagem da bola pela linha de baliza, entre os postes e por baixo da barra, permitindo assim o grito mais esperado pelas gargantas expectantes: "GOLO"!
Antes que o julgador mude de ideias, o nosso Falcao lança-se em voo planado, de peito aberto em direcção à massa delirante, em busca da merecida recompensa.
O circunspecto estratega francês, vendo os seus canhões arrombados por esta flor da inteligência, ainda se abeirou do juiz para pedir explicações, mas não logrou ver as suas questões respondidas. Era impossível: a palavra "matreirice" não existe em sueco.
De todo o modo, Sr. Arsénio, não fique a lamentar a falta de vocabulário (ou será de memória?). A gente explica o que é a matreirice, recorrendo a este elucidativo vídeo gravado em 2004. É que uma imagem vale mais do que mil palavras, não é verdade?

1 comentário:

  1. Eu, muito humildemente, neste lance detecto uma ilegalidade:a utilização do Rúben Micael. O jogador é inteligente demais, um cérebro genial na forma como exponencia o futebol, em todos os seus aspectos. Aqui sim há batota, em utilizar um sobredotado intelectual que, tecnicamente, defensivamente, etc. é também um jogador muito bom.Façam-lhe um teste ao Q. I. e, em consequência,atribuam o título nacional deste ano ao F. C. do Porto.

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